Série Rivalidades: China x Grã Bretanha – Parte 2 (final)

Por Ricardo Carvalho

Na verdade, os chineses trataram os ocidentais como uma tribo bárbara arrogante e desinformada cortejando favor especial ao Grande Imperador. Para compreender de forma mais precisa, não só essa relação, mas como tantas outras envolvendo a contraposição do ocidente com o oriente, deve-se ter ciência que os dois lados possuem visões culturais, ideológicas e histórica bem diferentes. Um exemplo pode ser visto no trato pelo apetite por lucro. Para o pensamento confucionista, esse é um conceito que não é positivo, ao contrário do que é implementado, de certa forma, no protestantismo. Enfim, mas é aquele ditado, né, se não vai ser por bem, vai ser por mal.

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-Até parece que me curvarei a esses ocidentais, pensou o imperador Qing

O maior cultivo de papoula (flor que processada produz o ópio) do mundo estava situado na Índia britânica, e através de um elo mercantil entre comerciantes britânicos e americanos com contrabandista chineses, conduzia um negócio agitado e lucrativo. Em 1839, Lin Zexu, um oficial de considerável habilidade, ficou encarregado de acabar com o tráfico na região do Cantão e botar moral para cima dos mercadores ocidentais para que estes respeitem a proibição oficial. Ao chegar nesta região, Lin obrigou todos os comerciantes estrangeiros de ópio que entregassem todo o seu estoque para destruição do mesmo. A ordem não foi respeitada, levando a prisão de todos os estrangeiros, incluindo aqueles que não tinham nada a ver com o negócio da droga, em suas fabricas, anunciando que seriam soltos depois de aceitar tal imposição.  Seguidamente, Lin enviou uma carta a rainha Vitória requerendo civilidade e submissão para que os ocidentais mandassem certos tributos para a China. Além disso, Lin, superestimava a posição de seu país, o ultimato de cortar a exportação de itens chineses, que segundo ele, era de extremamente essencial para a existência dos bárbaros ocidentais. Dessa forma, o lado pró-comercialização presente no Parlamento, solicitou uma declaração de guerra ao mesmo e através de uma carta enviada a Pequim e com ordens as frotas britânicas de tomar os principais portos chineses – assim como toda as embarcações que vissem –  começava a Guerra do Ópio.

A ousadia chinesa era tanto que em primeiro momento eles avaliaram a ofensiva britânica como uma ameaça sem fundamento e que a distância entre a China e a Inglaterra deixaria os ingleses impotentes. Rapaz, a surra que o Reino Unido deu na China foi algo de outro mundo. Para vocês terem noção, os ocidentais tinham 20 mil homens em suas tropas contra 200 mil militares chineses. Os números de vítimas e mortos é o seguinte: 69 mortos e 451 feridos do lado dos britânicos e do outro lado cerca de 20 mil feridos ou mortos. Sem palavras para esses números, impressionante. O Tratado de Nanquim, firmado em agosto de 1849, encerrou este conflito. Nele, a China fazia certas concessões como a posse de Hong Kong por tempo ilimitado aos britânicos, indenização de guerra em alto valor e abertura de cinco cidades chinesas para os ingleses.

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-Vai perder! Vai ganhar! Vai perder, vai ganhar, perdeu! Ganhou!, como diria Galvão

Sete anos após o desfecho da guerra supracitada, ocorre uma revista feita pelos chineses em um navio que possuía a bandeira britânica. Tal ato foi interpretado pelo Império Britânico como uma violação ao Tratado de Nanquim, fazendo deste o contexto para o início para a Segunda Guerra do Ópio. Vale lembrar que os franceses e os americanos lutaram contra a China nessa guerra; cada um tendo o seu motivo. Após 3 anos de batalhas, o lado ocidental saiu como vitorioso, o que já era esperado. A Grã-Bretanha aproveitou a situação para maximizar seus privilégios sobre a China e durante a Convenção de Pequim alguns pontos foram reafirmados através do Tratado de Tianjin, entre eles: a legalização da comercialização do ópio, direitos relacionado a liberdade religiosa e a clássica indenização de guerra.

Proximo post: Série Rivalidades: Japão x Russia – Parte 1

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